A técnica cirúrgica pode
ser realizada como Lengua (2001),
que faz a anastomose distal com safena invertida diretamente no arco venoso ou
como preconizamos: mantendo a safena magna “in situ” (Busato et al., 1999).
Safena
invertida ou devalvulada “ex situ”.
A técnica operatória é
descrita com detalhes simples e até fúteis mas que na realidade constituem um rol importante para o resultado final da
cirurgia (Lengua,1994).
A anestesia preferencial é
a peridural com cateter. Protegem-se eventuais lesões tróficas com material
estéril e impermeável assim como o apoio do calcanhar com uma luva preenchida
de água estéril. A intervenção pode ser realizada por duas equipes: a primeira
retira as safenas de ambas as coxas, prepara e executa uma anastomose na
artéria doadora.
1. Dissecção da veia:
Uma incisão oblíqua longitudinal na parte inferior,
lado interno do joelho serve para confecção do túnel para o enxerto. A segunda
equipe realiza a dissecção da veia marginal interna do pé através de incisão
pré-maleolar de dez centímetros para baixo na projeção desta veia. A incisão
deve evitar "cair" sobre a veia, pois o seu fechamento pode expor a
anastomose caso ocorra necrose de pele (figura 1B). Pontos de tração são colocados sobre as
bordas da ferida incluindo pele e fáscia subcutânea. Para dissecção da veia
marginal bem como para o fechamento da ferida evita-se a utilização de pinças e
afastadores para evitar a necrose da pele (Lengua,1994).
2. Tunealização:
Tuneliza-se o trajeto do enxerto
através do tecido celular subcutâneo com uma sonda de material plástico, em
trajeto anterior a safena magna pré maleolar. Evita-se tunelizador metálico que
pode causar descolamento da pele originando necrose.
3. Flebotomia:
Com o enxerto localizado
em seu leito, sem torções, se realiza uma flebotomia na veia marginal do pé
capaz de permitir acesso à primeira metatarsiana e a continuidade do arco
venoso. Utilizando-se os dilatadores metálicos, após distensão venosa com soro
fisiológico heparinizado, rompem-se as válvulas acessíveis à flebotomia.
4. Anastomose veia-arterial:
Procede-se a anastomose do enxerto venoso com
prolene 7 zeros e utilizando-se de lentes de aumento evitando deixar uma bolsa
que possa ser comprimida pelo fechamento da pele. Quando isto ocorre, é
preferível deixar a incisão apenas aproximada com abertura de 3 a 6 mm, cobrindo-se a anastomose
e deixando para cicatrizar por segunda intenção (Lengua, 1994).
Figura
01 – Técnica de arterialização do arco venoso do pé com safena “ex situ” (A).
Aproximação da pele na incisão cirúrgica do pé (B). Fonte:
Arterialization del pie por isquemia, F Lengua A.
5. Destruição das válvulas venosas:
Para a destruição das válvulas do pé foi
desenvolvido um conjunto flexível de 5 hastes, de 24 centímetros de
comprimento, armado com curtas olivas de ponta cônica de diâmetros variáveis de
1 a 2,5 mm com comprimento de 4 a 5 mm implantados num ângulo de 10 graus e uma de 6
cm, sem angulação, para destruir as válvulas ostiais da primeira metatarsiana.
A rotura é feita girando a oliva para dentro do lúmen evitando lesionar a
parede da veia (figura 2). A técnica cirúrgica deve ser meticulosamente seguida
porque o resultado depende de pequenos detalhes (Lengua, 2006).
Figura
02 – Conjunto de hastes metálicas utilizadas para valvulotomia. Fonte:
Arterialization del pie por isquemia, F Lengua A
Safena
“in situ”
A safena magna mantida “in
situ”, deve ser anastomosada à melhor artéria doadora, (figuras 3A e B) que
deve ser esqueletizada, pela ligadura de todas as colaterais, até a perfurante
anterior do maléolo (figura 4), que deriva parte do fluxo, para as veias
tibiais anteriores e dorso proximal do pé.
Figura
03 A e B – A safena magna “in situ” anastomosada à melhor artéria doadora. Fonte: Busato, et al. The great saphenous vein in situ for the arterialization of the
venous arch of the foot. J. vasc. bras. v.9 n.3, 2010.
Figura
4 – Safena magna esqueletizada até a primeira veia perfurante justa maleolar.Fonte: Busato, et al. The great saphenous vein in situ for the arterialization of the venous arch of the foot. J. vasc. bras. v.9 n.3, 2010.
A partir desta, todas as veias do pé devem ser
preservadas. Realizamos valvulotomia ascendente através das colaterais ao longo
da safena (figura 5) e no pé através de flebotomia (figura 6). O procedimento
pode ser simplificado pela passagem de um valvulótomo flexível a partir da
flebotomia que é realizada próxima a emergência da primeira metatarsiana.
Completamos a valvulotomia descendente na metatarsiana e no arco venoso do pé.
Figura
5 – Flebotomia no dorso do pé para rotura das válvulas. Fonte: Busato, et al. The great saphenous vein in situ for the arterialization of the venous arch of the foot. J. vasc. bras. v.9 n.3, 2010.
É
imprescindível a presença de pulso e frêmito ao nível do arco venoso dorsal,
(figura 7 A e B) manutenção das veias do pé a partir da perfurante anterior do
maléolo e integridade do sistema venoso profundo do membro que serve como “rota
de fuga” ao hiper-fluxo gerado pela fístula (Busato, 1999, 2008) .
Figura
06 – Fluxo arterial em veia dorsal do pé (A). Padrão de FAV ao doppler (B). Fonte: Busato, et al. The great saphenous vein in situ for the arterialization of the venous arch of the foot. J. vasc. bras. v.9 n.3, 2010.
A utilização da safena
magna “in situ” permite “arterializar” o arco venoso do pé com apenas uma
anastomose. Evita a retirada da veia de seu leito original e dispensa a
confecção de túnel.
Os bons resultados da
cirurgia estão relacionados mais a indicação precisa, estudo pré-operatório
arterial e venoso da extremidade em risco e detalhes técnicos do que do tipo de
cirurgia escolhida.
· Referencias:
· Lengua
F, Madrid A La, Acosta C, Barriga H, Maliqui C, Arauco R, Lengua A.
L’arterialisation des veines du pied pour sauvetage de membre chez
l’artéritique. Technique et resultats. Ann Chir 2001;126:629-638.
· Djoric P. Early individual experience with distal
venous arterialization as a lower limb salvage procedure. Am Surg
2011;77(6):726-30.
·
Busato
C.R, Utrabo C.A.L, Housome J.K, Gomes R.Z. Arterialização do arco venoso do pé
para tratamento da isquemia crítica sem leito distal. Cir Vasc & Angiol 1999;15:117-121.
· Busato
CR, Utrabo CAL, Gomes RZ, Housome JK, Hoeldtke E, Pinto CT, Brandão RI, Busato
CD. Arterialização do arco venoso do pé para tratamento da tromboangeíte
obliterante. J Vasc Bras. 2008;7(3):267-271.
· Lengua
F. Le pontage d’artérialisation veineuse distale peut-il être bénéfique au pied
diabétique avec nécrose? Chirurgie 1994-1995;120:143-152.
· Lengua
Almora F; Arterialization Del Pie Por Isquemia – Ultima Oportunidad para evitar
amputaciones em diabéticos.1ª edicion. Lima, Ed. Delvi S.R.L.Julio, 2006.
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